Lorena Souza
Final da década de 70. O Beco dos artistas é um dos locais que concentram artistas e estudantes que curtem a noite no final da ditadura militar. Naquele momento, manifestações contra o governo, pelos direitos das mulheres, liberdade sexual e de expressão são os pontos discutidos por aquela geração. Todo esse clima fez ferver, na época, boates e bares que transformaram o beco em reduto artístico e da diversidade sexual de Salvador.
Três décadas depois a Avenida Cerqueira Lima, localizada na entrada do Garcia, mantém a sua a fama de ser um dos principais pontos de encontro do centro da cidade. Os tempos são outros. Contudo, o Beco dos artistas, mesmo com suas temporadas de declínio, permanece como ponto de encontro de jovens e artistas do centro da cidade. A avenida agora comporta os Bares Camarim, Cultural, Academia da Cerveja e Green bar. Estes bares tornaram-se também em término de noite para quem vai curtir um show na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. “O Beco dos artistas é o primeiro lugar gay e cultural com nome forte na Bahia. É o lugar adequado para encontrar os amigos e cair na “pegação”. E ainda com a peculiaridade de abranger pessoas de diversos níveis sociais, diferente de outros lugares com o foco no público GLS” diz Clérisson Wesley, 24 anos, freqüentador do local há 4 anos. A localidade e o custo são os fatores principais que unem a geração de 30 anos atrás e a de Clérisson a freqüentar o Beco dos artistas. O local fica perto do centro, os bares não cobram consumo mínimo e ainda existe uma boate no Bar Camarim cuja entrada custa varia de 1,00 a 3,00 reais.
Porém, o Beco dos artistas é localizado em uma avenida sem saída que abriga uma vila aos fundos e isso gera discordâncias entre moradores e freqüentadores do local. “Ás vezes é impossível dormir. Como esses gays pedem respeito se não sabem respeitar a residência alheia? Eu tenho filhos que ainda são crianças e evito sair com eles em horário de movimento, pois não quero que vejam coisas que ainda não estão na idade de ver”, diz uma moradora da vila.
Esse tipo de divergência não é de agora. Uma casa noturna chamada Cactus já foi fechada anos atrás pela polícia federal. Motivo: além da estável presença de travestis no local, os moradores alegaram que os freqüentadores do beco faziam uso de drogas abertamente e brigavam constantemente. O Beco dos artistas ou “beco dos viados”, apelido pejorativo que lhe foi dado, já foi símbolo de protesto. Em meio aos prédios luxuosos ficou conhecido e começou a incomodar. Em meio a prédios luxuosos o Beco dos artistas é conhecido e continua a incomodar.
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